UNIVERSIDADE FEDERAL
DE OURO PRETO UFOP
Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência
PIBID.PED-FILOSOFIA
1.
IDENTIFICAÇÃO:
Coordenador de área: Sérgio Ricardo Miranda
Neves
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Acadêmico(a) Bolsista: Damiana Ferreira e Laiz Cristina
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Local de desenvolvimento do Subprojeto:
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP |
Ano:
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SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO
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2 – JUSTIFICATIVA
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3 – APRESENTAÇÃO DO
PROBLEMA FILOSÓFICO
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4 – DISCUSSÃO DO
PROBLEMA
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5 – CRÍTICAS ÀS
PROPOSTAS
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6 – SUGESTÕES DE
LEITURA
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7 – GUIAS DE LEITURA
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8 – SINOPSE
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9 – EXPLICAÇÃO DO
FILME
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10 – PLANO DE AULA
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11 – PERGUNTAS
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12 – REFERÊNCIAS
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1.
INTRODUÇÃO:
Levamos
o debate sobre o relativismo moral para as turmas 3º A e 3º B da Escola
Estadual Dom Pedro II com o intuito
de refletir sobre as nossas crenças culturais. Apresentamos as posições
conhecidas como “Relativismo Cultural” e o “Relativismo Moral”, segundo as
quais o certo e errado variam de cultura para cultura. Ao longo do trabalho,
também foi apresentado objeções ao Relativismo Cultural e ao Relativismo Moral.
Ao final, foi apresentado a tese do Objetivismo Moral, que propõe a existência
de valor objetivo nas questões morais.
2.
JUSTIFICATIVA
Neste
trabalho, propomos investigar o Relativismo Cultural e o Relativismo Moral.
Nosso objetivo foi dialogar com as turmas do terceiro ano da Escola Estadual
Dom Pedro II acerca da diversidade cultural de modo a problematizar o
relativismo moral sem desvalorizar as tradições, na tentativa de garantir o
respeito para cada indivíduo independentemente de sua origem.
3.
APRESENTAÇÃO
DO PROBLEMA FILÓSOFICO:
É
evidente que há no mundo diferentes tipos de culturas e que há variação a
respeito do que é aceito como certo e repudiado como errado quando passamos de
uma cultura para outra. Por exemplo, no Islã a poligamia é uma prática
culturalmente aceita, porém no Brasil, além de ser imoral, é proibido a um
homem se casar oficialmente com mais de uma mulher. A mutilação genital é uma
prática aceita em algumas tribos africanas, porém é rejeitada na cultura
ocidental. Algumas culturas permitem práticas homossexuais, enquanto que em
alguns países, como, por exemplo, na Arábia saudita, elas são consideradas
criminosas e quem as pratica pode ser punido com a pena de morte. Diante dessa
variação, pode-se perguntar se o que é correto e o que é errado, o que é moral
e o que é imoral, não seria, afinal, relativo a culturas. Essa questão é tema importante
da metaética, parte da ética que
estuda a natureza da moralidade. Uma resposta popular é o relativismo, que
ressalta a pluralidade dos costumes e defende a tese de que os valores morais
são relativos. Na sequência, discutiremos os argumentos a favor e contra a tese
do relativismo.
4. DISCUSSÃO DO PROBLEMA:
Parece
que os costumes caracterizam as diferentes sociedades e o que é considerado
correto em uma sociedade pode ser considerada incorreto em outra. Pode-se então
perguntar: o certo e o errado não seriam relativos a culturas? Uma abordagem a
essa questão é dada pelo relativismo
cultural, que não só a diversidade dos costumes, mas registra também que há
diferenças entre povos, e que o que é certo e o que é errado de fato varia de
cultura para cultura. O relativista moral
vai mais longe. Partindo da afirmação de que o que é certo e o que é errado
varia a cada cultura, o relativista moral nega a possibilidade de um padrão
objetivo de avaliação moral. É importante aqui ressaltar que aceitar o
relativismo cultural não implica concordar com o relativismo moral, mas aceitar
o relativismo moral implica em estar de acordo com o relativismo cultural.
O
relativismo moral interpreta os valores morais em termos de aprovação social:
visto que não é possível ser imparcial, as pessoas tendem a defender os padrões
morais aprovados pela maioria, ou seja, pela cultura na qual foram educadas.
Considere a crença de uma pessoa que foi educada em uma cultura que aceita a
mutilação genital. Essa pessoa é influenciada a acreditar que essa prática é
correta, já que está de acordo com os seus costumes. Além disso, aceitar o
relativismo moral implica estar disposto a entender que quaisquer regras morais
que aceitamos podem ser inaceitáveis em outro contexto. Se pensarmos, por
exemplo, na poligamia, para um relativista moral, se alguma sociedade
considerar a poligamia uma prática incorreta, isso significa que a sociedade
desaprova essa prática, mas que, em outra cultura, essa mesma prática possa ser
considerada correta. Segundo o relativismo moral, não faz sentido questionar
qual das posições está absolutamente correta, já que os costumes de cada
sociedade constitui um fundamento para o certo e o errado. Portanto, para um
relativista moral não há um padrão objetivo para determinar o que é certo e o
que é errado.
5.
CRÍTICAS
ÀS PROPOSTAS:
O
relativismo moral defende a tese de que não há um padrão moral objetivo, sendo
o certo e o errado relativos a cada cultura. Mas qual seria o argumento a favor
dessa tese relativista? Ele seria um argumento sólido?
Para
argumentar a favor da tese relativista, os relativistas partem da diversidade
cultural, construindo o seguinte argumento:
P1. Culturas diferentes têm códigos
morais diferentes.
P2. Certo e errado variam de cultura para
cultura.
∴ Portanto,
não existem princípios morais objetivos.
Esse
argumento é um argumento solido? Vale lembrar que um argumento sólido é um
argumento válido com premissas verdadeiras, e que um argumento é válido somente
se não for possível que a sua conclusão seja falsa dada a verdade das suas
premissas. Podemos conceder que a premissa do argumento relativista seja
verdadeira, visto que há de fato diversidade cultural e há variação naquilo que
as pessoas consideram como sendo o certo e o errado. Contudo, ele não é um
argumento válido: a verdade de P1 e P2 não garante a verdade da conclusão o
argumento a favor do relativismo moral, visto que as afirmações sobre a
diferença dos códigos morais e a variação do certo e errado de cultura para
cultura dizem respeito somente ao que as pessoas pensam ou acreditam ser o
certo ou o errado, enquanto a conclusão diz respeito ao que objetivamente é o
caso.
Para
ilustrar essa distinção, considere um exemplo: diferentes povos têm crenças
diferentes sobre o fenômeno da chuva, uns acreditam que a água que cai do céu é
enviada por deuses que controlam o funcionamento do ecossistema, outros
acreditam que a chuva é um fenômeno meteorológico que consiste na precipitação
de gotas de água em estado líquido sobre a superfície da terra. O ponto aqui é
que do fato de pessoas de diferentes culturas manterem crenças contrárias
acerca da origem da chuva não implica que todas essas pessoas estejam certas.
Nesse caso, mesmo que pessoas de diferentes
culturas mantenham crenças diferentes, apenas um grupo dessas pessoas
está objetivamente correto.
Podemos
considerar agora um caso envolvendo avaliação moral a titulo de ilustração do
ponto que queremos estabelecer: A mutilação genital é uma pratica aceita em
algumas tribos africanas, porém ela é proibida na cultural ocidental. Deveremos
então admitir que a mutilação genital não é objetivamente certa e nem objetivamente
errada? Não somos forçados a fazer essa admissão. O fato de algumas tribos
africanas acreditarem que a mutilação genital é correta não significa que seja
em si correta, mas que apenas pensam ser o certo, da mesma forma acontece com a
cultura ocidental que acredita ser errada a mutilação genital. Portanto,
notemos que do fato de pessoas diferentes acreditarem em coisas diferentes, não
se segue que todas essas pessoas estejam corretas, de modo que,
independentemente da crença seguida, algumas pessoas podem estar objetivamente
certas e outras objetivamente erradas.
Há
ainda um outro ponto contra o relativismo moral.
O
relativismo moral considera que não há verdade objetiva no campo da moral e
que, portanto, certo e errado variam de cultura para cultura. Diante disso, a
opinião da maioria das pessoas pareceria ser um parâmetro para o que seria
certo e o que seria errado dentro de cada cultura. Isso funcionaria bem se as
culturas fossem homogêneas, ou seja, se todas as pessoas tivessem a mesma
opinião sobre tudo dentro de uma determinada cultura. O problema é que na
prática os acontecimentos não se dão dessa forma, visto que, em geral, as
culturas são compostas de subgrupos. Esses subgrupos dizem respeito às diversas
atividades exercidas por uma pessoa - como sua religião, sua área de atuação
profissional -, aos amigos, à família, em suma, aos interesses pessoais de cada
um dentro de uma dada cultura.
Para
ficar mais claro o ponto que queremos estabelecer, consideremos agora um
exemplo. Na perspectiva relativista, se em um país a maioria das pessoas
defende a mutilação genital, então se segue que todos daquele país devem achar
o mesmo, visto que deve prevalecer a opinião da maioria. No entanto, não
podemos desconsiderar que nessa mesma cultura pode haver um grupo, composto por
uma minoria de pessoas, que repudiam a mutilação genital. O problema é que ao
aceitar o relativismo moral deve-se rejeitar a opinião da minoria das pessoas.
Nesse sentido, o relativismo moral negligencia a possibilidade de que cada cultura
possa aprender com seus próprios erros e com os erros das demais culturas, além
de impedir qualquer progresso no campo da moral, já que o correto deve
coincidir com o que é socialmente aprovado.
Diferentemente
do relativista moral, o objetivista moral
sustenta que as culturas têm valores em comum, contrariando dessa maneira,
tanto o relativismo cultural quanto o relativismo moral e apontando para
concordância de certos valores em sociedades diferentes. Com efeito, se
analisarmos mais de perto os hábitos das diferentes culturas, veremos que é
possível apontar uma base racional que justifique juízos morais entre elas.
Inveja, assassinato, traição, por exemplo, são considerados como ruins em
diferentes culturas, ao passo que valores como lealdade, justiça, integridade e
outros são vistos como bons em diversos lugares. O que indica que as
inclinações humanas não se divergem tanto assim quanto acredita o relativista.
Uma
perspectiva objetiva sobre o que seria a moralidade entende que existem
preferências pessoais que não necessitam ser acompanhadas de razões, como, por
exemplo, quando alguém prefere a cor rosa ao invés da cor vermelho, ou quando
alguém prefere comer pêssegos ao invés de comer maçãs. No entanto, para o
objetivista, ações morais devem ser avaliadas sobre critérios que independem da
cultura e sejam acessíveis a todos que são racionais. O objetivista moral
propõe que os códigos morais tenham valor de verdade, ou seja, a defesa dos
valores morais deve ser construída por um pensamento consistente e justificado.
Sendo assim, o objetivismo moral propõe que no relacionamento entre diversidade
cultural e objetividade moral seja preservado o respeito às diversidades
culturais. A afirmação de um caráter universal da moralidade não se destina à
destruição das crenças políticas, religiosas ou ideológicas dos povos; pelo
contrário, o interesse de se estabelecer um padrão objetivo na moral segue-se
da necessidade de se estabelecer um parâmetro mínimo de relacionamento social,
parâmetro esse que, a partir de bases racionais e de argumentos devidamente
justificados, possa garantir direitos mínimos para cada indivíduo fora ou
dentro de qualquer cultura.
6. SUGESTÕES DE LEITURA:
a-
Professor:
·
Rachels, James, O Desafio do Relativismo Cultural, Plátano Editora S.A, Lisboa.
2006. In ALMEIDA, Aires. MURCHO, Desidério, Textos
e Problemas de Filosofia. p. 51 - 57
·
Sen, Amartya. Direitos Humanos e Diferenças Culturais, in Democracia ,
org. por R. Darnton e O. Duhamel (Rio de Janeiro: Record, 2001, pp. 421-429).
Adaptação de Desidério Murcho.
b-
Alunos:
·
Gensler, Harry Tradução de Paulo Ruas. Extraído de Ethics: A contemporary introduction, de Harry Gensler (Routledge,1998).
7.
GUIAS
DE LEITURA:
a-
James
Rachels – Elementos da Filosofia Moral:
No
segundo capítulo do livro de James Rachels “Elementos da filosofia Moral” há
uma interessante discussão do relativismo. Esse capitulo é dividido em sete
tópicos: 1- como diferentes culturas possuem têm diferentes códigos morais:
Primeiramente, Rachels, através de alguns exemplos, demonstra de uma maneira
clara que os valores morais variam de cultura para cultura. 2- Relativismo
cultural: Com a constatação da variação dos valores morais, o autor se coloca
na postura de um relativista, afirmando que a noção de certo e errado é
relativo a cada cultura. 3- O argumento das diferenças culturais: ele expõe o
argumento a favor do relativismo para então mostrar que, apesar de ser
convincente para muitas pessoas, o argumento não é sólido. 4-As consequências
de se levar a sério relativismo cultural: entre as consequências o autor afirma
que “Não diríamos mais que os costumes de outras sociedades são inferiores ao
nosso”. 5-Por que há menos desacordo do que parece: apesar da variação dos
códigos morais, muitas vezes ao examinar o que parece ser uma grande diferença
descobrimos que as culturas não se diferem tanto assim. 6- De que modo todas as
culturas têm valores em comum: Se analisarmos mais de perto os hábitos das
diferentes culturas, veremos que é possível estabelecer princípios morais
semelhantes. Há preceitos como não matar e não mentir que são aceitos pela
maioria das culturas. 7- O que se pode apreender do relativismo cultural: Ao
final do capítulo, Rachels argumenta
que, apesar da teoria relativista ter sérios problemas, ela contém elementos
importantes, como chamar atenção para o fato de que muitas práticas que
pensamos ser naturais serem meramente produto cultural.
b-
Harry
Gensler – Ética e Relativismo Cutural:
No
texto “Ética e relativismo cultural”, temos, em primeiro momento, a definição
de relativismo cultural, que segundo o autor Gensler significa aquilo que é
socialmente aprovado. Para argumentar a favor do relativismo cultural, o autor
utiliza uma figura ficcional, que foi nomeada “Ana relativista”, que expõe os
argumentos a favor do relativismo cultural. O relativismo afirma:
P1. Culturas diferentes têm códigos
morais diferentes.
P2. Certo e errado variam de cultura para cultura.
∴ Portanto,
não existem princípios morais objetivos.
Em
seguida, partindo das afirmações a favor do relativismo cultural, o autor
aponta algumas objeções à argumentação relativista. Ao final do texto, em
resposta ao relativismo, o autor expõe o objetivismo, que afirma que as
culturas têm valores em comum, contrariando relativismo e apontando para
concordância de certos valores em sociedades diferentes.
c-
Amartya
sem – Direitos humanos e Diferenças Culturais:
Esse
texto foi incluído nas sugestões de leituras porque trata dos Direitos Humanos, que é um assunto
recente e importante para o relacionamento entre as diferentes culturas. O
ponto importante é que o texto de Amartya Sem, ao discutir acerca da moralidade
no âmbito dos direitos humanos, possibilita uma melhor compreensão do problema
da moral, além de fornecer base intelectual para a análise crítica das ideias
apresentadas no trabalho.
Sendo
assim, no texto Direitos humanos e
diversidade cultural, encontraremos, primeiramente, as seguintes definições
dos conceitos de direitos humanos
universais e direitos
constitucionalistas:
·
Direitos Humanos Universais são
caracterizados por serem direitos mínimos, que dizem respeito à sobrevivência e
comunicação das pessoas, e que são concedidos a todos, independentemente da
origem, cultura ou quaisquer formas de identificação que a pessoa possa
possuir.
·
Direitos Constitucionalistas são
direitos e/ou deveres garantido a um determinado povo, que pertencentes a uma
determinada localidade, obedecem e são protegidos por certar leis locais.
A
partir das definições apresentadas acima, o autor divide o texto em cinco
tópicos:
A)
Discordâncias
aparentes e contrastes culturais:
Amartya
Sen reafirma o caráter unificador dos direitos humanos universais, dizendo que
tais direitos valorizam o indivíduo. Além de estabelecer critérios mínimos para
o relacionamento cultural. Porém, o autor também destaca que, por serem aceitos
apenas no ocidente, os direitos humanos surgem como um fator de diferenciação.
O ponto problemático é que os relativistas se apropriam dessa ideia para
afirmar a diversidade cultural e o relativismo moral. Amartya Sen também mostra
que os relativistas usam tal fator de diferenciação para atacar os direitos
humanos, dizendo que a obrigação de aceitar dos direitos humanos considerados
universais seria o mesmo que impor a cultura ocidental sobre as demais
culturas. Diante disso, o autor finaliza a primeira parte do texto questionando
sobre a existência efetiva de diferenças entre as tradições dos povos e crenças
políticas.
B) Diversidade nas tradições
ocidentais e valores asiáticos:
Amartya
Sen afirma que do ponto de vista histórico não há de fato uma dicotomia entre
as civilizações ocidentais e não ocidentais. O autor fala que a base natural da
liberdade individual e da democracia política que caracterizam a civilização
ocidental e que vai gerar o conceito dos direitos humanos universais é na
verdade uma ideia muito nova. É claro que outras ideias que valorizam a
tolerância ou a liberdade individual foram apoiadas e defendidas por muito
tempo, porém o conceito de direitos humanos é uma ideia recente, derivada da
condição de intenso relacionamento intercultural possibilitado, entre outros
fatores, pela globalização. Amartya Sen diz que, se, no entanto, quisermos
buscar as origens das ideias de liberdade individual e tolerância presentes no
pensamento contemporâneo ocidental, iremos encontra-las também no pensamento
não ocidental. O autor aponta que as
tradições intelectuais são muito variadas tanto nas culturas ocidentais quanto
nas culturas não ocidentais. O budismo é apresentado como exemplo, já que tal
tradição nasce e se desenvolve na Índia e rapidamente se estende ao sudeste
asiático e ao leste da Ásia, chegando aos dias atuais, tendo adeptos em todo o
mundo. Vale lembrar que o Budismo considera que cada ser humano têm o direito a
tolerância individual. Além disso,
outros autores da antiguidade e contemporâneos em diferentes regiões da Ásia,
também se empenharam, segundo os mais variados registros, em favor da
tolerância. O que segundo Amartya Sen comprova que as ideia de liberdade e
tolerância não são ideias exclusivamente ocidentais. Dessa forma, ele conclui
definindo que as culturas asiáticas desenvolvem, tanto quanto as tradições
ocidentais, uma grande diversidade de posições. Dessa maneira o autor propõe o seguinte encadeamento
de ideias:
ü A
ideia de direitos humanos enquanto direitos universais de todo ser humano a
partir de bases sólidas e racionais é uma ideia recente.
ü As
tradições e pensamentos antigos, encontrados nos escritos de certos pensadores
asiáticos e ocidentais apontam elementos, como a valorização da tolerância e da
liberdade, que são muito próximos um do outro e absolutamente coerentes com a
noção moderna de direitos humanos.
ü O
autor conclui que não há dicotomia cultural global, sejam “reivindicadas pelos
que acreditam nas particularidades do ocidente, ou pelos partidários do
autoritarismo asiático”.
C) Variação no interior das
civilizações islâmicas:
Vemos
muitas vezes os islâmicos serem caracterizados como fundamentalmente
intolerantes e hostis à liberdade individual. No entanto, a diversidade
inerente a cada tradição também se encontra no islamismo. Para comprovar tal
afirmação, Amartya Sen apresenta alguns exemplos, dentre os quais destacamos os
Mongóis da Índia (especialmente o imperador Akbar) que chegaram a construir
teorias sobre a necessidade da tolerância à diversidade. Dessa maneira, o autor mostra que mesmo
levando em consideração que existam outros teóricos não ocidentais que foram
hostis aos direitos individuais. Que mesmo assim, devemos levar em conta o
alcance da diversidade no interior das tradições islâmicas. Ou seja, Amartya
Sen define que não é possível afirmar que a civilização islâmica se oponha
integralmente à tolerância ou à liberdade individual.
D) Conflito entre nações e críticas
internas:
Amartya
Sem se concentra na diversidade existente no interior de cada cultura não para
afirmar que os países e culturas estão igualmente divididos, mas para argumentar
a favor dos direitos humanos e para afirmar que tal ideia não é fruto de uma
dicotomia antiga, mas, antes disso, é uma característica do mundo
contemporâneo. O autor aponta que as ideias que possibilitaram os direitos
humanos universais surgiram, sob uma forma ou outra, em diferentes culturas.
Afirmando assim a necessidade de se reconhecer a diversidade cultural não
apenas entre nações e culturas, mas igualmente no interior de cada nação e de
cada cultura.
E)
Para
Concluir:
O
conceito de direitos humanos universais atrai tanto o senso comum, quanto a
humanidade no que ela tem de comum. O conceito de direitos humanos é uma ideia
muito nova possibilitada, entre outros fatores, pela globalização. No entanto,
tal ideia unificadora tem sido objeto de críticas severas por parte dos
relativistas e dos governos autoritários. Amartya Sem mostra que na realidade
ideias de liberdade individual e tolerância presentes no pensamento
contemporâneo ocidental e no conceito de direitos humanos tem seus fundamentos
também no pensamento não ocidental. Além disso, afirma que as divergências
mudam dentro de cada cultura e de cultura para cultura. E que sendo assim a
diversidade no interior de cada cultura pode contribuir para tornar o mundo
menos discordante.
8.
SINOPSE:
O
filme “Gran Torino” relata a experiência complexa de convivência entre diversos
povos com diferentes culturas em um mesmo bairro, ressaltando o problema da
diversidade cultural. O filme afirma as dificuldades de convivência quando as
pessoas não valorizam os mesmos princípios morais, mas aponta para a possibilidade de uma boa
convivência entre pessoas diferentes quando alguns valores morais são aceitos
pelas pessoas independentemente de sua cultura. Veremos isso ao analisar a
relação entre os personagens Walt e a família de Thao, que mesmo sendo de
culturas diferentes possuem sentimentos e valores morais comuns. Em suma, “Gran
Torino”, ao apontar a existência de pessoas com valores em comum em meio à
diversidade cultural, chama a atenção para a possibilidade do dialogo e acordo
sobre os princípios morais que viabiliza o convívio das pessoas.
9.
EXPLICAÇÃO
DO FILME:
Walt Kowalski (Clint Eastwood), um
sobrevivente da Guerra da Coreia (1950-53), é um homem aposentado que valoriza
os costumes de sua cultura (americana) e que se sente invadido ao ter de
dividir o mesmo espaço com pessoas de culturas diferentes que passam a morar no
mesmo bairro que ele. No filme, vemos o difícil relacionamento entre brancos,
negros e orientais; porém, para abordar a temática da moralidade, vamos nos
concentrar no relacionamento - que inicialmente é de desprezo e posteriormente
é de amizade - que Walt estabelece com seus vizinhos imigrantes Hmong, vindos
do Laos. Para tanto, selecionamos três cenas que serão expostas a seguir:
ü No
dia de seu aniversário Walt está sozinho bebendo cerveja na varanda, quando sua
visinha Sue (Ahney Her) o convida para ir até uma festa na sua casa. Na casa
dos Hmong, o personagem Walt observa que a família é muito tradicional, e, por
isso, traz consigo vários costumes que são diferentes daqueles adotados por
outras culturas, como, por exemplo, a cultura americana na qual Walt está
inserido. Na hora da refeição, Walt e
Sue conversam, e ela expõe alguns hábitos do seu povo, o que destaca a
existência de diferenças culturais. A personagem explica a seu vizinho
americano que seu povo acredita que alma das pessoas reside na cabeça, e que
por isso nunca se deve tocar na cabeça de um Hmong. Além disso, tal cultura
assinala que olhar outra pessoa diretamente nos olhos é algo muito rude, que
deve ser evitado. Para finalizar sua descrição, Sue diz que, culturalmente, o
sorriso e visto pelo seu povo como expressão de constrangimento. Nessa cena,
Walt concorda que ele e os Hmong são culturalmente diferentes, assinalando a
diversidade cultural.
Ø Início
da Cena: 44:33,357
Ø Fim
da cena: 00:45:21,444
ü Após
constatarmos a diversidade cultural, vamos analisar duas cenas que demonstram
que pessoas diferentes podem perfeitamente manter valores morais comuns. Thao
(Been Vang) é irmão de Sue e vizinho de Walt. Ele é obrigado por uma gangue a
roubar o carro de Walt, o seu Gran Torino 1972. O Roubo é impedido pelo
proprietário. Na cena que tem início aos 55 minutos de filme, a família de Thao
procura Walt para dizer que foram desonrados com o ato do rapaz, pois eles
acreditam que roubar é uma ação moral errada. Sendo assim, a família de Thao
exige que o rapaz trabalhe sem receber por isso, por um tempo determinado para
Walt.
Ø Inicio
da cena: 00:55:03,043
Ø Fim
da cena: 00:55:23,582
ü Na
cena que se inicia com uma hora e quatro minutos de filme e termina dois
minutos depois é Walt quem demonstra que roubar é uma ação moralmente errada.
Walt está ajudando Thao a consertar algumas coisas em sua casa, quando vão
juntos até a garagem de Walt para buscar algumas ferramentas que faltam. No
local, Thao fica admirado com a imensa quantidade de ferramentas que Walt
possui. Walt fica ofendido com a admiração do vizinho, que anteriormente havia
tentado roubar o seu carro, e ressalta que todos aqueles objetos foram
comprados ao longo de 50 anos de vida, com muito esforço e trabalho honesto.
Essa cena demonstra claramente que, mesmo mantendo hábitos culturais bem
diferentes, tanto Walt quanto seus vizinhos possuem valores morais em comum. O
que reforça a ideia de que mesmo aceitando as diferenças culturais podemos
apontar pontos comuns na moralidade.
Ø Inicio
da cena: 01:04:51,850
Ø Fim
da Cena: 01:06:15,052
10. PLANO DE AULA:
1) Temática
geral: Relativismo Cultural e Relativismo Moral
2) Tema:
Sobre os códigos morais; se a moral seria relativa à cultura ou não.
3) Público
alvo: Alunos do 3º ano do Ensino Médio da “Escola Estadual Don Pedro II”.
4) Recursos
didáticos: Data show, textos selecionados, quadro negro e giz
5) Objetivo
geral:
·
Trabalhar com os alunos os conceitos de
Relativismo Cultural, Relativismo Moral e Objetivismo Moral para produzir o
questionamento: Será certo e errado, moral e imoral relativo aos hábitos
culturais?
6) Objetivos
específicos:
·
Trabalhar com os conceitos e as diferenças
entre relativismo Cultural e Relativismo Moral.
·
Promover o debate e o diálogo sobre o
tema em sala de aula.
·
Possibilitar aos alunos a produção de
uma resposta sobre o seu posicionamento acerca do questionamento sobre a
moralidade.
·
Estimular o respeito e a valorização dos
costumes culturais de outros povos.
11. PERGUNTAS PARA AVALIAÇÃO:
I.
O que é o Relativismo Cultural?
II.
O que é o Relativismo Moral?
III.
O que é a objetividade da Moral?
12. REFERÊNCIAS:
• BENEDICT,
Ruth, O Relativismo Cultural, Plátano Editora S.A, Lisboa. 2006. In ALMEIDA,
Aires. MURCHO, Desidério, Textos e
Problemas de Filosofia. p. 48-50
•
Gensler, Harry Tradução de Paulo Ruas. Extraído de Ethics: A contemporary introduction, de Harry Gensler (Routledge,1998).
• RACHELS,
James. “O Desafio do Relativismo Cultural”, Plátano Editora S.A, Lisboa. 2006.
In ALMEIDA, Aires. MURCHO, Desidério, Textos
e Problemas de Filosofia. Pag 51 – 57
Sen, Amartya. Direitos Humanos e Diferenças Culturais,
in Democracia , org. por R. Darnton e O. Duhamel (Rio de
Janeiro: Record, 2001, pp. 421-429). Adaptação de Desidério Murcho.